A magia musiva do bruxo Bel Borba
Nascido
em Salvador ao final de janeiro de 1957, quando a cidade se preparava para a festa de Iemanjá, Bel Borba veio ao mundo para
modificar a paisagem da Bahia, que hoje se confunde com ele, com suas obras de intervenção pública, sobretudo os painéis de
mosaicos, que se espalham nas encostas, paredes, túneis, postes e nas retinas dos baianos.
Trata-se
de uma realidade que vem transformando a capital da Bahia de alguns poucos anos a
esta data, oferecendo uma nova configuração plástica à sua paisagem urbana. Salvador passa por uma espécie de renascimento
artístico, graças às intervenções de Bel Borba que vieram se somar às de Mário Cravo, Carybé (falecido em 99), Juarez Paraíso
e outros artistas consagrados da Bahia.
Tendo
ingressado em 76 na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Bel mostrou desde muito cedo sua vocação para
o emprego de linguagens simples na interlocução com o público, como o uso de spray no campo da pintura, que pesquisou, empregou
e dignificou. De salão em salão, em 1986 já transpunha as fronteiras nacionais, levando seu talento a Nova York, onde participou
da execução de um Mural sobre o Apartheid, na Segunda Avenida.
Mas
é na Bahia e com o uso do mosaico que veio plasmar sua presença e garantir um espaço privilegiado no universo das artes plásticas.
Salvador abriu-lhe as portas de forma generosa e ele a ocupou como a uma amante exigente. No Candeal, construiu uma serpente
em aço inoxidável com 85 metros de comprimento, como também o mosaico que orna a bica do bairro, na rua 18 de agosto. Lançou
em 1997 o Projeto Novo Grafismo de Rua, que lhe permitiu realizar uma iguana em mosaico numa encosta da Avenida Juracy Magalhães,
em Salvador. Logo depois, cobriu de mosaicos os pontos de ônibus, as árvores, as pedras, os postes e encostas na Amaralina,
na Boca do Rio, no Contorno, na Avenida Garibaldi, no Rio Vermelho e na Escola Cupertino Lacerda. Em Lauro de Freitas executou
um painel em mosaico na Praça Beira Mar, como também na Praça das Artes, em Salvador. E mais: Um painel de músicos, em mosaico,
para o Festival de Verão de 2000; um mural em mosaico para a sede do Centro de Recursos Ambientais; outro mais para a Cortina
de contenção do Largo do Retiro (com mil metros quadrados); e outros painéis musivos para a entrada dos condomínios Chácaras
Suíça, Bosque Itália e Horto Florestal.
Em
2001, executou um painel de 400 metros quadrados na lateral de proteção da ponte sobre o rio Joanes, na Estrada do Coco, em
Lauro de Freitas. Realizou então uma obra singela, mas que lhe garantiria novo foco de visibilidade urbana, o painel Morcegos,
no túnel da Avenida Garibaldi. Em seguida fez o painel em mosaico do Hospital Aliança Infantil e no Colégio São Paulo outro
painel, este com a participação de crianças.
É
interessante notar que, apesar do caráter grandioso da obra musiva de Bel Borba, toda ela marcada por trabalhos de envergadura
painéis com até mil metros quadrados -, ele inicia-se na arte com trabalhos de pequeno porte, tendo executado mesinhas de
bar, que hoje representam um atrativo a mais em ambientes como o Bar Empório Cidade Jardim e o Restaurante Arturos, no Rio
Vermelho.
Pela
trajetória apresentada até aqui e levando-se em conta que sequer mencionei os demais trabalhos executados em outras linguagens,
como pinturas, azulejos, esculturas, objetos, cenários e outros de produção igualmente fértil, fica evidente o caráter constelar
de sua obra, que impressiona não só pela vastidão como pela qualidade.
Bel
Borba desmonta aquela imagem gasta de que baiano não gosta de trabalho, aliás uma visão preconceituosa atribuída igualmente
aos artistas em geral. Ele é exatamente o oposto, um vulcão criativo em permanente erupção, um mosaicista luminoso que enobrece
a arte e a redimensiona numa escala nunca vista antes no Brasil. Um baiano pra lá de porreta.