Um
mosaico Zen do modernista Inimá de Paula
Instalado
em 1984 nos altos do Morro São Sebastião, na cidade mineira de Ouro Preto, o Templo Zen Pico dos Raios é uma área aberta à
prática budista, que desperta a curiosidade de boa parte dos turistas em visita àquela cidade. Funcionava anteriormente como
mosteiro, que acabou transferido para a cidade de Lavras Novas, a poucos quilômetros dali, passando a se chamar Mosteiro Zen
Serra do Trovão. Em Ouro Preto, as instalações do antigo mosteiro deram lugar ao templo, também aberto para cursos, oficinas
e outras atividades, admitindo hospedagens, visitações e doações de simpatizantes e praticantes.
Um
desses simpatizantes foi o grande artista mineiro Inimá de Paula, que doou uma obra belíssima realizada em mosaico, retratando
a figura de Buda, colocada sobre uma murada de pedra, bem na entrada do templo. Tive a oportunidade feliz de visitar o Templo
nos primeiros dias de 2004, quando pude testemunhar a riqueza do trabalho, que é uma expressão diferenciada da inspiração
do artista, aluno dileto do artista plástico Gino Severini, que o iniciou, em 1954, na arte do mosaico, conforme a ensinava
na Académie de La Grande Chaumière, em Paris.
Inimá
tornou-se um mestre em mosaicos, passando a dar aulas na Escola municipal de Belas Artes em Belo Horizonte para um sem número
de alunos, dentre os quais é preciso destacar o nome de Carlos Bracher, nascido em 1940 na cidade de Juiz de Fora e radicado,
desde 1970, em Ouro Preto ponto de encontro artístico dessa travessia.
A
figura de Buda no Templo Zen de Ouro Preto foi realizada com quebra de cerâmicas e azulejos, sendo envolvida com tesselas
de mármores brancos, capixaba, cortados manualmente, proporcionando um resultado muito luminoso que não permite a ninguém
passar indiferente. É uma obra que guarda certa singularidade no elenco de outras obras em tela deixadas por Inimá, que o
situam antes como um paisagista. O elemento comum são as cores, vistosas e fortes como nos pincéis do artista.
Inimá
José de Paula nasceu em Itanhomi, pequeno município desmembrado de Caratinga na década de 20. Cedo mudou-se para o Rio de
Janeiro, onde fixou-se no bairro de Santa Teresa, conhecido por abrigar ateliês artísticos de qualidade. Crescido no convívio
com nomes como Pancetti, Milton Dacosta e Yoshia Takaoka (outro que também iria a Paris tomar aulas de mosaico com Severini),
Inimá de Paula parte para o Ceará em meados da década de 40 para fundar a Sociedade Cearense de Belas Artes, ao lado de Aldemir
Martins, Antônio Bandeira e outros. Em 52, ganha o prêmio de Viagem ao Exterior uma prática comum até então, concedida aos
melhores artistas, e hoje, lamentavelmente, abandonada do Salão Nacional de Belas Artes. Viaja dois anos depois para Paris,
onde estuda com Severini não apenas mosaico, mas desenho e pintura mural. Na década de 60 leciona na Escola Municipal de Belas
Artes, em Belo Horizonte, e também na Escolinha Guignard. Estabelecido na capital mineira, ali trabalhou até a morte, ocorrida
em 1999, tendo legado aos mineiros uma Fundação que leva seu nome, empenhada na catalogação, divulgação e preservação de sua
obra.
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